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segunda-feira, 7 de agosto de 2023
Justiça manda Universal pagar R$ 93 mil por explorar tragédia familiar
A Justiça paulista determinou que a Igreja Universal do Reino
de Deus pague uma indenização de R$ 93,6 mil a uma
família cuja imagem foi explorada sem autorização em um
programa chamado "Vício tem Cura".
A história começou em 2016, quando a TV Record exibiu uma
reportagem sobre um rapaz de 21 anos que morreu um dia
depois de ter sido internado pela mãe em uma clínica de
reabilitação para tratar do vício do crack. À época, a mãe do jovem concedeu
uma entrevista na qual cobrava explicações sobre o que havia ocorrido.
Cinco anos depois, a Record repassou as imagens para Universal, que as exibiu,
de forma descontextualizada, no programa "Vício tem Cura".
No processo aberto contra a Igreja e a Record, a família afirma que o programa fez
um juízo de valor sobre a conduta da família, "indicando que a internação teve
relação direta com a morte, e que o tratamento espiritual teria sido mais eficaz".
Reinaldo Azevedo
A advogada Gabriela Kiapine Silva, que representa a família, afirmou à Justiça que a
conduta da Igreja foi "cruel e imoral" ao repassar a ideia de que a morte teria sido
evitada se a família não tivesse optado pela internação. "Houve um desserviço à
sociedade, principalmente por propagar a noção inverídica de ser equivocada a
internação médica de um dependente químico."
Em parecer anexado ao processo, o Ministério Público disse que houve uma
exposição indiscriminada dos fatos e destacou que a Igreja, ao exibir o programa,
divulgou um QR CODE, visando obter lucro por meio de doações, num claro intuito
"de explorar comercialmente a dor".
Na defesa apresentada à Justiça, a Igreja Universal, fundada em 1977 por Edir
Macedo, disse que o programa "Vício tem Cura" não é uma farsa nem tem objetivo
comercial. Destacou ser um projeto que existe desde 2014, existindo em mais de 70
cidades, e que já ajudou na recuperação de muitos dependentes químicos. "Foi
justamente com esta intenção que trecho da matéria jornalística foi utilizado para
ilustrar o programa."
A Universal afirmou que não culpou a família pela morte do rapaz e que não fez
qualquer tipo de juízo de valor. Afirmou que não cometeu nenhum ato ilícito.
"Os autores [do processo] estão tentando locupletar-se às custas das rés [Universal e
Record], trazendo uma estória, com nítida intenção de induzir este a Justiça em erro."
A Record disse em sua defesa que o programa "Vício tem Cura" é de
responsabilidade exclusiva da Universal e que apenas aluga espaço em sua grade
para que "terceiros" transmitam seus programas. Edir Macedo, fundador da
Universal, é proprietário da Record.
"Se, porventura, existiu algum ilícito, não foi a Record", declarou, ressaltando que a
reportagem exibida em 2016 tratou de um assunto verídico e de interesse público.
A Justiça não aceitou a argumentação.
"A Record não tinha o direito de ceder, vender ou emprestar a reportagem a
terceiros, para uso indistinto e indiscriminado, sem autorização da família", afirmou
na decisão o desembargador Alexandre Marcondes, relator do processo.
Em relação à Universal, o desembargador declarou que a Igreja provocou "evidente
dano aos familiares ao exibir o programa em rede nacional muito tempo após o
acontecimento trágico, explorando a desolação familiar e alterando completamente o
contexto".
O processo já transitou em julgado, ou seja, não cabe mais recurso em relação ao
mérito. No dia 31 de julho, o juiz Paulo da Silva Pinto determinou que a Universal e a Record
cumpram a sentença pagando os R$ 93,6 mil de forma conjunta em 15 dias, sob
risco de terem os valores penhorados.
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