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segunda-feira, 16 de outubro de 2023
Constelação familiar promete resolver conflitos geracionais e auxiliar a Justiça
Questões mal resolvidas e mágoas acumuladas entre parentes, mesmo envolvendo
aqueles que já partiram há tempos, podem gerar dor, sofrimento e ruídos nos
relacionamentos que atravessam gerações. Para romper esse ciclo penoso, muitos
defendem que a técnica da Constelação Familiar Sistêmica pode ser um recurso
benéfico, rápido e eficiente.
No entanto, é importante lembrar que a prática não tem comprovação científica e não é
reconhecida nem pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia), nem pelo CFM (Conselho
Federal de Medicina).
A constelação familiar é uma prática considerada terapêutica que busca resolver
conflitos familiares que atravessam gerações. Num primeiro olhar, a técnica tem
conteúdos parecidos aos do psicodrama, por conta da dramatização de situações, e da
psicoterapia breve, pela ação rápida. Mas, embora parecidas, elas não são a mesma
coisa e a prática não é reconhecida pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia).
A dinâmica pode ser feita em grupo ou individualmente. Durante a sessão são recriadas
cenas que envolvam os sentimentos e sensações que o constelado sente sobre sua
família. Nas sessões em grupo, são os voluntários e participantes que vivem essas
cenas. Já nas sessões individuais podem ser usados esculturas de bonecos ou
quaisquer outros recursos disponíveis - setas, pedras, adesivos, âncoras de solo —para
representar os diferentes papéis do sistema.
Trata-se de uma técnica subjetiva e empírica (ou seja, sem comprovação científica) e,
por essa razão, muitos especialistas consideram equivocado chamá-la de terapia. Ela foi
criada pelo teólogo, filósofo e pesquisador alemão Bert Hellinger (1925-2019) que leva
em consideração conceitos energéticos e fenomenológicos.
É uma técnica reconhecida pela ciência?
Não. A Constelação Familiar não é reconhecida pelo CFP (Conselho Federal de
Psicologia) nem pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) porque faltam dados e
estudos científicos que possam comprovar sua eficácia. O próprio Bert Hellinger, criador
da técnica, denominava a constelação como método empírico, ou seja, baseado na
vivência e observação do próprio pesquisador.
Profissionais formados em Psicologia Familiar Sistêmica estudam teorias e metodologias
como o psicodrama, do romeno Jacob Levy Moreno (1889-1974), na qual é utilizada
uma técnica teatral compondo cenas trazidas pelo paciente para trabalhar questões.
Além disso, a técnica de Esculturas Familiares, introduzida pela psicóloga norteamericana
Virginia Satir (1916-1988) certamente foi a inspiração para o uso dos bonecos.
Muitos profissionais acreditam que a terapia convencional, inclusive a familiar, é mais
cuidadosa por lidar com questões emocionais num tempo e numa amplitude maiores. O
pós-sessão e os novos insights advindos de uma sessão são intensos, importantes e
devem ser trabalhados com todo o cuidado. Por esse motivo, mesmo que o CFP não
proíba nem contraindique a Constelação Familiar, o ideal é que ela funcione como
prática complementar à psicoterapia —inclusive, o próprio SUS (Sistema Único de
Saúde) já a autorizou com essa finalidade.
A constelação familiar pode substituir a terapia? O que ela busca
resolver?
Não. A constelação familiar não substitui a psicoterapia convencional, muito menos
dispensa o uso de medicamentos e tratamento psiquiátrico para certas doenças —
mesmo porque ela não cura nenhuma doença, apenas serve como recurso para sanar
determinados problemas comportamentais e relacionais.
As principais questões levadas à constelação familiar envolvem relacionamentos com o
pai e/ou mãe. A aplicação é muito abrangente, mas a maior parte dos emaranhados
estão ligados à relação que as pessoas têm com os pais, como a dificuldade de aceitar
certos comportamentos deles que rechaçam, mas que não conseguem deixar de
reproduzir. Conflitos com filhos adolescentes também são rotineiros nas constelações, já
que nessa faixa etária as discussões e o fato de eles se acharem mais espertos do que
os pais são habituais. Dificuldades no emprego e no meio profissional, um destino
familiar recorrente, problemas financeiros e condutas repetitivas (como escolher
amizades ou relacionamentos afetivos abusivos) são outros males comuns abordados
nesse tipo de terapia.
Dois dos problemas mais constelados são as dificuldades em lidar com dinheiro e em
estabelecer relações amorosas saudáveis. Durante o processo, é comum que a pessoa
perceba que vem repetindo padrões de seus antepassados, mesmo que nunca os tenha
conhecido. Um bisavô endividado ou uma tia-avó que foi abandonada grávida e
desprezada pela família pode afetar as gerações futuras.
Não se trata de "maldição", mas, de acordo com os estudos de Bert Hellinger, os
descendentes acabam repetindo o destino —ainda que inconscientemente — de outros.
Essa repetição de destino é uma forma de aliança que o sistema faz para trazer os
membros que foram excluídos ou não reconhecidos para o lugar que pertencia a eles.
Mas o efeito depende do quanto a pessoa está aberta para a transformação. No
processo, representantes e facilitadores podem pronunciar frases específicas de cura
sistêmica. Algo como "devolvo o que é seu e tomo o que é meu", "teve que ser como foi",
"eu te aceito", "eu vejo você e permito que você me veja", "se eu ou meus ancestrais
causamos algum mal, por favor nos perdoe", "eu perdoo você", "está tudo bem". Para os
especialistas na técnica, essas frases repercutem de forma interna e ajudam a
ressignificar dores, mágoas e conflitos. A emoção vai sendo diluída e substituída por
apaziguamento. "Agora estou em paz" é uma frase que pode selar o fim, sendo que
cada um usa o livre arbítrio para decidir qual o comportamento adequado a partir de
então.
Todo mundo pode fazer constelação familiar?
Quem aplica a constela técnica ainda não indica para pessoas num momento de
depressão intensa, emocionalmente frágeis ou comprometidas cognitivamente, pois toca
em sentimentos muitos profundos e, para muita gente, difíceis de lidar. Pessoas com
quadros psicopatológicos, que estejam em crise psiquiátrica ou em pré-crise, vítimas de
traumas profundos, e pessoas sob efeito de álcool e drogas também não devem fazer.
Crianças podem participar se tiverem autorização dos pais e se assim desejarem, mas
Bert Hellinger sugeria que tivessem mais de 8 anos de idade, faixa etária em que a
compreensão de alguns fatos já é melhor. Quanto às gestantes, quem aplica a
constelação familiar não recomenda a prática em grávidas em situação de risco e
gestações no primeiro ou no terceiro trimestre, sob o risco, respectivamente, de aborto e
parto prematuro.
Além disso, por mais que as sessões sejam abertas a espectadores, pois eles ajudam a
facilitar a compreensão, os consteladores pedem que pessoas apenas curiosas não
participem, pois as constelações servem para tratar questões que incomodem as
pessoas de fato.
Quero constelar minha família, todos eles precisam ir?
O trabalho de Constelação Familiar pode acontecer em grupo ou individualmente. Em
grupo, o trabalho é dirigido por um facilitador e as pessoas (outros especialistas, gente
do público) podem participar como representantes. Explicando melhor: familiares,
mesmo os envolvidos no tema/problema do constelado, não precisam participar. Mesmo
porque, às vezes vêm à tona questões envolvendo parentes já falecidos. Só que o fato
de a pessoa não estar presente ali não significa que não está presente na vida de quem
vai constelar. Aliás, também não é preciso conhecer detalhes da árvore genealógica ou
do histórico da família. As informações necessárias surgirão através de uma espécie de
percepção e da memória coletivas.
E de acordo com os especialistas no tema, a pessoa sente profundamente o
acontecimento e o campo —a sessão, com os participantes— mostra isso ou, pelo
menos, indica caminhos. Quando um familiar muda, o sistema familiar todo acaba se
transformando. Uma constelação pode atuar por meses com um efeito dominó.
Quantas sessões são indicadas?
Pessoas que aplicam a constelação familiar dizem que uma única sessão é suficiente
para ter resultados satisfatórios. Não é recomendável nem usual trabalhar mais de um
tema em uma sessão. A pessoa pode, sim, fazer outra sessão, mas para um tema
diferente e com um intervalo mínimo de um mês, em média. Como tudo está interligado,
o trabalho em um tema pode afetar também uma outra questão.
As 3 leis do amor e os princípios da constelação familiar
A Constelação Familiar se baseia em três conceitos conhecidos como Leis do Amor, que
atuam consciente ou inconscientemente em todos os sistemas de relacionamentos.
Segundo Hellinger, o respeito a essas leis gera relações harmoniosas e felizes entre
seus membros, que se tornam capazes de evoluir em toda as áreas da vida. O infringir
dessas leis, ainda que num plano inconsciente, pode gerar dores, conflitos e sofrimentos.
As Leis do Amor são:
Lei do Pertencimento
Todos os membros têm o direito de pertencer ao sistema. Na família, isso inclui crianças
abortadas (por aborto espontâneo ou provocado), bebês natimortos e parentes sobre os
quais muitas pessoas não gostam de falar ou que, por algum motivo, foram excluídos. É
o caso de alcoólatras, dependentes químicos, criminosos condenados, homens e
mulheres não aceitos por sua conduta ou orientação sexual e mortos de maneira trágica.
O reconhecimento do lugar impede que outro membro do sistema tenha necessidade de
repetir a mesma situação que excluiu o membro anterior --isso porque se alguém é
excluído, outra pessoa ocupa esse lugar. Todo mundo precisa ter uma posição no
sistema e no coração da família.
Lei da Ordem ou Hierarquia
Significa a necessidade de reconhecer o lugar de um membro no lugar que lhe é devido
reconhecendo a ordem de precedência dentro do sistema. Exemplo: um pai sempre será
o pai, independente de estar ou não presente. Uma mãe sempre será a mãe, presente
ou não fisicamente. Isso vale, inclusive, para adoções ou novos casamentos --o pai ou a
mãe biológicos precedem os adotivos e os padrastos e madrastas. Se a avó criou o neto
por algum motivo, isso não deve impedir que a mãe tenha seu lugar no sistema. Os
filhos também têm a sua posição conforme a precedência. Quando houve um aborto, a
criança que não nasceu deve ser respeitada na ordem que lhe confere o lugar --por
exemplo, antes do nascimento de um outro filho.
A Lei da Ordem também cobra pelo reconhecimento dos fatos da vida e sua importância
para seguir adiante, como reconhecimento das relações anteriores para que se tenha
sucesso nas relações posteriores. Devemos ter gratidão aos que vieram antes. Com
esse reconhecimento, podemos seguir fortes sem carregar nada do passado.
Lei do Equilíbrio
Em qualquer sistema de relacionamento, os membros pertencentes devem se sentir em
equilíbrio para que a relação flua em harmonia. Quando um membro se sente "maior" do
que outro em importância, a relação sofre consequências e daí surgem os emaranhados.
É por isso que tantos pais de adolescentes recorrem à constelação: de acordo com os
ensinamentos de Hellinger, a única relação passível de existir desequilíbrio é naquela
entre pais e filhos. Os pais sempre serão "maiores" por darem a vida aos filhos, o bem
mais valioso, e jamais obterão um reconhecimento à altura. O papel dos filhos, então, é
tomar a vida como algo precioso, aceitar os pais como eles são e passar adiante o amor
recebido, seja construindo uma família, um projeto, uma missão.
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