terça-feira, 16 de julho de 2024

A verdade sobre a maconha.

O uso maconha foi registrada pela primeira vez em 1894 com o nome hispânico marijuana mas começou a ser usada pela humanidade entre 2000 e 1000 a.C. nas regiões da Ásia Central, de onde é nativa. Tudo indica que viajantes trouxeram a planta para o Ocidente durante expedições feitas pelo Himalaia e para a Índia. Eles chamavam a canábis de ganja, um termo provavelmente oriundo do persa antigo para se referir a “tesouro”. Em algum momento entre os séculos III e VIII, curandeiros passaram a usar a planta de maneira medicinal para tratar catarro em excesso, diarreia e até mesmo gripe. Foi nesse ínterim, inclusive, que a canábis adquiriu caráter folclórico ao ser incorporada em mitos populares sobre a deusa Shiva e em outros contextos divinos. A partir disso a planta começou a ser queimada como oferenda à deusa e fumada para facilitar o diálogo com seres de outro plano, firmando suas raízes na cultura indiana e fazendo do país o berço da maconha. No século XVII, o cânhamo da canábis chegou no Ocidente enquanto a Grã-Bretanha se expandia pela América do Norte, se tornando cultura obrigatória para os agricultores. A canábis era plantada, colhida e transformada em produtos têxteis. Foi assim que a planta se tornou tão valorizado a ponto de servir até como moeda. Na história europeia, a viagem da maconha se transformou em meados de 1841, quando Sir William Brooke O’Shaughnessy, um prestigiado médico irlandês no campo da farmacologia, introduziu ainda mais a planta na medicina ocidental após sua estadia na Índia. Ele conheceu a maconha no país como droga recreativa, quando misturada com tabaco, e como remédio, ao ser extraída em resina e misturada com outros componentes. O médico não poderia imaginar que isso mancharia a reputação da planta para sempre. Todo o fascínio de O’Shaughnessy pela maconha e pela quantidade de soluções que ela oferecia para várias doenças, da diarreia à cólera, foi exposto no Provincial Medical Journal de 1842. Seu trabalho eletrizou a comunidade médica vitoriana e, em 1856, ele lançou as bases para a terapia intravenosa com maconha, colocando a planta em livros de farmacologia em toda a Grã-Bretanha e a Europa. A maconha passou a ser usada em pacientes em seu estado de extrato, dissolvida em álcool e administrada por via oral. Além disso, foi adotada como tratamento para histeria, funcionou como sedativo geral, anestesia durante o parto e até como remédio para ciclos menstruais muito dolorosos. Com isso, a popularização e uso excessivo da maconha encontrou seu maior inimigo: a falta de estudos. Embora tudo tenha acontecido na segunda metade do século XIX, quando o campo da farmacologia sintética havia começado a decolar, muito ainda não estava claro sobre os ativos da planta, sobretudo o tetraidrocanabinol (THC) – que só foi descoberto em 1964. A maconha usada na Era Vitoriana foi inteiramente preparada de maneira orgânica, portanto, variou amplamente o quanto do ingrediente ativo se poderia obter em um determinado lote de canábis. Ou seja, tanto sua eficácia quanto seus efeitos colaterais não podiam ser previstos de forma confiável. Era a receita para o desastre. Aspectos técnicos que a comunidade médica enfrentou foram responsáveis pela diminuição do uso da maconha. A começar pela agulha hipodérmica, desenvolvida em 1853, que oferecia melhores formas de administrar tratamentos. Contudo, uma vez que a maconha não é solúvel em água, o uso dela por injeção dificultou cada vez mais sua administração. Quando inovações tecnológicas encontraram o desenvolvimento de drogas sintéticas, a maconha e outros remédios fitoterápicos começaram a cair em desuso. Tudo aconteceu muito rápido, ainda na segunda metade do século XIX — tanto a ascensão quanto a queda do uso da maconha pela comunidade médica. A essa altura, alguns indivíduos da sociedade já estavam viciados em maconha, principalmente nos hospitais psiquiátricos. Sem legislação para controlar o uso da planta, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos enfrentaram uma situação quase tão ruim quanto a do ópio. Em 1891, o The Pioneer, um jornal inglês da Índia, relatou o crescimento da venda de maconha e seus efeitos em pacientes com doença mental na Índia controlada pelos britânicos. A Grã-Bretanha se deparou com o ópio sendo substituído pela maconha, visto que os políticos lutavam ativamente em campanhas contra a droga, considerada um símbolo dos males do imperialismo para os políticos liberais que se opunham ao Império Britânico. É bom ressaltar que o vício em maconha se limitou às instituições médicas psiquiátricas e aos círculos da alta sociedade, em que o ópio era consumido em larga escala. Muito embora um estudo de 1893 sobre os efeitos da canábis tenha mostrado pouca ou nenhuma evidência de que a planta estava relacionada à insanidade, as alegações do The Pioneer incitaram o governo britânico e os opositores ao ópio a determinar a maconha como uma droga que poderia causar loucura. Era o início da má reputação da maconha no horizonte. A parte ser considerada uma droga porta de entrada para drogas mais pesadas, novas descobertas científicas tem apontado benefícios do uso moderado da maconha em pacientes com algumas doenças graves, sendo receitada por médicos em forma e óleo ou extratos. Inclusive diversos países tem até liberado o uso da maconha pela sua população para o uso recreativo. A história da maconha continua aberta...

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