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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
A briga na Justiça da família que não aceitou o acordo com o Flamengo
Cristiano e Andreia travam uma luta judicial com o Flamengo desde dezembro de 2021. A ação corre na 33ª Vara Cível do Rio de Janeiro. O pedido
inicial é de um total de R$ 8.440.000,00, com danos morais e pensionamento.
Em outubro do ano passado, eles estiveram frente a frente com advogados do Rubro-Negro, em uma audiência que serviria para que testemunhas
indicadas pelo clube prestassem depoimentos. O Fla, porém, desistiu na última hora.
Luiz Humberto Tavares, gerente de administração do clube na época do incêndio, seria uma delas. Ele esteve no Fórum e foi dispensado. Rodrigo
Dunshee, vice Jurídico, e o funcionário da manutenção Diego Diogo da Silva nem chegaram a ir.
"E eu fui só para ouvir o que eles iriam dizer. Ter, ao menos, uma resposta sobre tudo que aconteceu. Já que a diretoria do Flamengo não dá
resposta, ninguém dá resposta, quem sabe as testemunhas que eles arrolaram para ser a favor deles poderiam falar? Poderíamos saber, de fato, o
que aconteceu, porque eu não sei. Só sei que pegou fogo no ar-condicionado", disse Cristiano
A família reclama também da forma como os advogados do clube presentes trataram o encontro. "Ali eles estavam falando sobre uma vida que se
foi. Os pais estavam ali presentes, mas é como se eles estivessem sentados em uma mesa de bar. Não tiveram esse respeito", salientou Andreia.
O Flamengo foi procurado, mas não respondeu ao contato. Em nota enviada para toda a imprensa, o clube afirmou ter prestado
assistência para todas as famílias. Sobre o caso dos familiares do goleiro, o Rubro-negro informou que "a única família que não aceitou o acordo
recebe, mensalmente, uma pensão do clube, independentemente de processo judicial, e o Flamengo continua aberto para alcançar uma
composição com eles, a quem muito preza".
Até hoje não temos resposta, isso que é o mais dolorido. Não tem culpado, não tem ninguém. Essa é a nossa luta, essa é a nossa briga. Pelo
sonho do nosso filho, mas também pela justiça. O Flamengo não vai colocar preço na vida do meu filho. Ele não vai decidir quanto que ele vale, não vai dizer se o meu filho poderia ou não ser um futuro jogador disse Andreia de Oliveira
O Flamengo anexou as alegações finais neste processo no último dia 5. No documento, o clube considera o valor pedido pela família de Christian
como "exorbitante". No tópico 87, o clube diz:
Para afastar sua responsabilidade, o Rubro-Negro coloca à mesa as fortes chuvas que caíram naquela madrugada no Rio de Janeiro e o que teria
sido uma quebra de contrato da NHJ, empresa que forneceu os contêineres.
O Fla indica um entendimento do STJ de que valores de indenizações por danos morais, em caso de morte, devem ser calculados entre R$ 150 mil
e 500 salários mínimos, e pede aplicação de um novo cálculo para pensão.
No caso concreto, por certo o sofrimento vivido pelos autores em razão da perda de seu filho de maneira tão
trágica deve ser levado em conta, mas não se pode, no entanto, ser fixado dano moral em valor exorbitante e
discrepante dos critérios estabelecidos pela jurisprudência
Na data do incêndio, bem como nos dias antecedentes, o Rio de Janeiro foi castigado por graves tempestades
(chuva e vento) as quais ocasionaram grandes oscilações e quedas de energia na região do Centro de
Treinamento. Soma-se, ainda, aos picos e oscilações de energia, causados pelo serviço deficiente da
concessionária e pela ação da natureza, a existência de inadimplemento contratual por parte da NHJ, que
forneceu os módulos habitacionais sem a proteção antifogo que o Flamengo contratou e confiava ter recebido, o
que foi determinante para o trágico óbito do filho/irmão dos autores
Desse modo, uma vez demonstrado que os danos materiais pretendidos na forma de pensão revelam-se
excessivos, requer-se que estes sejam fixados conforme jurisprudência do STJ sobre o tema, isto é, em, no
máximo, 2/3 do salário-mínimo, no período em que o menor falecido teria entre 16 e 25 anos, e, após esse
período, no valor de 1/3 do salário-mínimo até o momento em que o falecido completaria 65 anos
A família de Chistian Esmério almeja ver punidos os culpados pelo incêndio no alojamento da base do CT do Flamengo, e questiona como não há
respostas ainda hoje, cinco anos depois.
"Queremos justiça. Não é como a gente vê aí... Fomos massacrados diversas vezes nas redes sociais, pessoas dizendo que queremos enriquecer.
Não! Queremos justiça, que achem o culpado. Porque tem um culpado. É muito fácil o Flamengo falar que foi a empresa de contêiner, a natureza, a
Light, mas não foi. Foi imprudência. Como é que não tem culpado?", pergunta Cristiano.
O pai de Christian coloca à mesa os diversos eventos que aconteceram antes de o fogo consumir os dormitórios. "Vai fazer cinco anos e não tem
um culpado. Não tem um quem autorizou a fazer o gatilho, quem autorizou a religar. Daqui a pouco vai chegar um momento de não ter culpado e o
culpado serem as crianças".
O culpado sabemos quem é. Que o culpado, necessariamente, seja julgado como culpado. Essa é a questão. Que não arrume o culpado, como
eles fazem
Esperamos que a justiça seja feita. Não só pelo nosso filho, mas por todas as crianças. Por mais que as famílias tenham fechado acordo com o
Flamengo, a justiça todos queremos. Todos os pais querem essa resposta, e, até o momento, não temos
Este é o quinto 8 de fevereiro desde o incêndio, e a família de Christian Esmério mostra que o tempo é relativo. Passaram-se mais de 1800 dias
após aquela manhã em que o telefone tocou com a notícia, mas, para eles, as folhas arrancadas do calendário não amenizaram a ferida aberta.
"Em nossa mente, não vem que são cinco anos depois. Tudo ainda é muito vivo. Parece que foi ontem, sempre. Vão se passar anos e anos, e vai
ser como se fosse ontem. O vazio vai ser eterno, só que a gente teve de seguir", afirma o pai do goleiro.
Não houve um adeus. Os contatos de Christian com a família aconteceram até horas antes da tragédia. "Vai ser muito vivo, até porque nós não
tivemos a oportunidade nem de nos despedir do nosso filho. Falamos com ele um dia antes, estava feliz, e, no outro dia, amanhecemos com a pior
notícia das nossas vidas", completou ele.
Apesar da sensação dos familiares do jovem goleiro, o mundo ao redor marca a data de forma expressiva e o tema ressurge para onde quer que
se olhe, juntamente à dor. Apesar do aperto no coração, Andreia reserva uma visão positiva: que a história de Christian não seja esquecida:
"Essa data, para mim, é o pior dia de se passar. Traz à memória a todo tempo o pior dia da minha vida. É muito difícil. A procura até vejo como algo positivo, é um meio de não deixar a história morrer porque já vemos o Flamengo tentando o tempo todo que isso aconteça, que se apague, caia no esquecimento". Eu perdi o meu filho correndo atrás do sonho dele. Eu perdi o meu filho indo atrás de um futuro, e por imprudência
de uma grande instituição, que é o Flamengo
Seguir em frente se tornou um desafio quase que diário após a morte de Christian. Tudo mudou e a mãe do goleiro teve de ter força para não
desistir de dar novos passos.
"O meu maior desafio é ter de continuar, entender que a vida continua, que preciso ter planos, que preciso continuar sonhando, continuar vivendo.
Esse é, sempre, meu maior desafio, entender que a vida não parou e seguir, mesmo sabendo que parte de mim morreu. Parte da minha vida se foi
e não pude nem me despedir", desabafou Andreia, que completou:
"Acabamos, enfim, vivendo um dia após o outro. A gente não cria expectativa, não espera. Perdi perspectiva de vida, de pensar à frente. Eu hoje
não consigo fazer planos. Tento fazer isso em prol dos meus filhos que estão vivos, mas é muito difícil".
Cristiano e Andreia são pais de Cristiano Júnior, que é pai de Gael, de três anos, e Alessandro, pai de Laura, de um ano. Os netos viraram os xodós dos avós "babões" e um combustível.
"O Gael me abraça e me dá até um fôlego novo, ânimo novo. A Laura está longe [mora no Espírito Santo], mas, mesmo assim, vê-la sorrindo,
andando, me dá muita força. Durante um bom tempo eu pensava que não tinha o que fazer aqui, não via sentido na vida. Hoje vejo que tenho de
dar suporte aos meus filhos, meus netos", contou Andreia.
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